terça-feira, 17 de março de 2009

Como eu era... como você!

Acho que já nasci pedalando...

O grandão que anda de bike. Era assim que eu era conhecido. Tenho 1,95m e não saia de cima de uma bike por nada, ou quase nada. Tive dezenas. Elas dormiam no quarto comigo. Todas tinham nome e causavam ciúmes nas namoradas. Foi Beatriz, Sheila, Carol e outras. Mas apesar do carinho não tinha dó das bichinhas. Já quebrei dois quadros no meio. Acho que já quebrei tudo quanto é peça. E apesar disso, só quebrei um osso, o maxilar, mas nem trilha eu tava fazendo.
Sou o de camisa branca, o mais bonito, claro.
Então, assim que eu era. Fazendo esportes sempre, curtindo natureza, adorava acampar, não parava em casa pra (quase) nada. Quando sofri o acidente que me deixou paraplégico, eu estava morando em Florianópolis, fazendo mestrado na UFSC em finanças, e em total atividade esportiva. Além de ir de bike todo dia pra universidade, fazia trilha no sábado à tarde, balada à noite e trekking domingo de manhã. Haja fôlego!
Vieram as férias de Julho e vim pra Minas, visitar meus pais e amigos. Fui a Viçosa visitar amigos, e já saindo pra BH passei na loja de um amigo que tinha acabado de comprar uma moto, dessas 'tampra de caixão', 600 cilindradas e com pneu de competição. Fui pra Universidade, onde tem muita reta, e estava em férias, pra acelerar um pouco. Peguei a reta mais vazia, chamei a bichinha no acelerador. A 140 por hora, eis que surge, do nada, um trator com carretinha, atravessando na minha frente. Lasquei pé e mão nos freios e a moto rabeou e me jogou longe. Bati com a cabeça no chão e o peso do meu corpo esmagou minha vértebra T2. Machuquei bem a mão e o tornozelo, mas quando tentei levantar... nada. O socorro veio rápido (foi perto dos bombeiros da universidade), fui transferido pra BH no mesmo dia, dali a uma semana fiz uma cirurgia de artrodese na coluna (doze 'pequenos' parafusos ligados formando uma estrutura, praticamente um Robocop) e fiquei dois meses internado.
Muita gente pensou: "coitado, uma vida ativa dessas e de repente está preso a uma cadeira de rodas..." Aí que entra a outra lesão: não fiquei triste, nem deprimido, nem inconformado. Meio puto pela merda que aconteceu, mas pensei: "que que eu posso fazer? Nada. Então vou tentar viver da melhor forma possível." Dizem que quem cai nessa passa por várias fases: confusão, revolta, depressão, aceitação. Eu passei por elas em quatro minutos. Cara, eu tava vivo, isso é coisa pra comemorar.
Tanto que minha 'estadia' no hospital parecia uma colônia de férias. Mexia com todo mundo, médicos, enfermeiras, fisioterapeutas. O povo devia pensar: "esse cara não vai ficar triste não?" Pra que? Ia melhorar alguma coisa? Ia acelerar a cura? Hoje vejo que grande responsável pela recuperação que sinto é minha cabeça boa. Tava tão numa boa que até namorada arrumei lá. Tudo bem que eu tava namorando, quando houve o acidente, a ex que fui visitar em Viçosa voltou a ser 'atual', mas não era pra ser mesmo. Aí conheci uma enfermeira, que apesar de casada (ainda usava aliança) estava separada do marido. Quando fui sair do hospital, eu precisava de alguém pra ajudar nos primeiros dias em casa, ela estava entrando de férias, foi tomar conta de mim. Fui conhecendo-a melhor, uma coisa leva a outra, aí já viu... mas isso é assunto pra outro post.

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