Acho que todo mundo tem histórias do tipo "essas coisas só acontecem comigo". Mas eu tenho tantas assim que sou obrigado a repetir: essas coisas só acontecem comigo. Certa vez fui pra Brasília com meus pais e ficamos na casa de um amigo do meu pai. Na época eu morava em república em Viçosa com três caras de lá, liguei pra um deles (o Paxtel, já falei dele aqui) e combinamos de sair pra tomar umas.
Estávamos de férias da faculdade e o cara estava fazendo estágio em uma empresa de uma cidade satélite (não me lembro qual), saía de casa às 6:30 e pegava dois ônibus para chegar lá oito horas da manhã. Esse dia era uma quinta feira e tinha acabado de chegar um amigo de infância dele na cidade. Combinamos de ir pra um boteco tomar umas, encontramos mais uma meia dúzia de amigos deles e ficamos só no gole. Ficamos naquela toma-uma-conta-causo-toma-mais-uma-mexe-com-a-mulherada até mais de meia noite.
Perto de uma da manhã fomos desfazendo a mesa, muitos trabalhavam no dia seguinte, inclusive o Fabrição. Só que o amigo de infância dele estava de carona, e fomos deixar ele em casa. Aí ele teve a brilhante idéia de escrever uma carta pra um outro que estava no exterior (naquela época o e-mail engatinhava). Entramos na casa do cara e fomos pra sala, onde havia um barzinho, e começamos a tomar whisky. Dose pra cá, dose pra lá, neguim rachando de rir e o tempo passando. Deu três da matina e eu mais preocupado que o Paxtel. Ele nem aí, tomando mais uma, eu também não ia ficar de babá de marmanjo, achei que ele fosse matar o estágio. Acabaram de escrever a carta e fomos embora, já estava amanhecendo, aí falei pra ele me deixar na casa do amigo do meu pai. De repente, deu um lapso de sobriedade no Paxtel e ele resolveu ir pro estágio, senão o professor ia ficar sabendo e ia dar rolo. Beleza, me deixa lá e vai. Ah, mas o pai dele ia precisar do carro. Aí Paxtel teve a brilhante idéia:
- Me leva no ponto onde pego o segundo ônibus, pega o carro, vai pra minha casa, entra e dorme no meu quarto até eu chegar, lá pela uma da tarde.
Beleza, só tinha o pequeno detalhe: a mãe dele mal me conhecia, tinha me visto duas vezes, uma que foi em Viçosa e outra no ano anterior, quando passei por Brasília. Mas, pra quebrar o galho de um chegado a gente corre o risco.
Deixei Paxtel no ponto e fui pra casa dele. Ah, o carro era um Omega, top na época, eu nunca tinha dirigido um. Ah, eu tinha uns 21 ou 22 anos. Ah, não tinha radar de velocidade na época. E, como sabem, eu era meio lesado. Resultado, 180 km/h nas retas monumentais de Brasília. Puro rock and roll. (Paxtel, se estiver lendo, lembre-se que o carro chegou inteiro lá, heim).
Mas não era a maior emoção do dia. Tinha que chegar lá, enfrentar os cachorros dele (um era enjoado que só vendo) e entrar pé ante pé correndo o risco de tomar um tiro. Cheguei, abri o portão eletrônico, coloquei o carro e sai. E lá veio o cachorrinho enjoado latindo pra mim. A sorte é que era daquelas raças de mini-cachorro, nem conseguiu morder meu tênis. Entrei e ouvi um barulho vindo da cozinha. Era a empregada, mas passei batido e ela não me viu.
Entrei e capotei na cama dele, rezando pra ninguém aparecer antes de uma da tarde. Mas lá pelas dez... ouvi a porta se abrindo vagarosamente. Me virei e a porta fechou de uma vez. Levantei com uma preguiça tremenda e chegando perto da porta ouvi a mãe dele falando com a empregada:
- Quem tá no quarto do Fabrício?
- Ué, ouvi ele chegando de carro de manhã, não era ele?
- Ele não é não, o cara tá até com os pés pra fora da cama! Ai meu Deus, quem será?
Nisso eu abri a porta. As duas deram aquele pulo, e antes que ligassem pro 190 eu me identifiquei:
- Sou o Sam, de Viçosa, que mora com o Fabrício, lembra?
Ela me reconheceu e aí foi só contar a história pra ela, que me deixou voltar a dormir.
É, só comigo mesmo...
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