sexta-feira, 15 de maio de 2009

O bitelo e o tampinha (parte 1)

Quando o assunto é altura sou praticamente PHD. Vivi os dois lados da moeda, conheço todas as vantagens e desvantagens de ser alto demais ou baixo demais. Neste post vou contar sobre aventuras nas alturas.
Antes da cadeira de rodas meus apelidos geralmente eram gigante, bitelo, vara-pau, girafa, coisas do gênero. Minha visão do mundo era diferente da maioria das pessoas. Com 1,95m, sempre fui o mais alto da turma, da escola, e algumas vezes da cidade. E o que eu achava interessante é que realmente a visão do mundo é muito diferente. Para uma pessoa de estatura média, digamos 1,70m, uma cadeira é um objeto de tamanho normal. Pra mim era sempre pequena. O vaso sanitário então, pra mim é pouco maior que um vaso de planta. Vejamos algumas situações em que a altura se destaca. 
Nos shows de música ou festas lotadas, não tinha problema. Sempre tinha uma boa visão e ainda um pouco mais de ar que o resto do povo. Percebi nitidamente isto quando fui ao Rock in Rio em 1991 (desenterrei heim!). Aí já vem algumas desvantagens de ser muito alto. A primeira delas era servir de ponto de referência. Por um lado, até que era bom, a turma se encontrava onde eu estivesse. E se alguém fosse dar uma volta, achava rapidinho o resto do grupo. Mas o problema era quando eu queria dar 'aquela' voltinha. Várias vezes eu estava 'ocupado' em algum canto e chegava alguém perto dizendo 'ué, cade o resto do povo?'. Quando eu falava que não sabia e a pessoa tinha desconfiômetro ela saia de fininho. Mas e os realmente perdidos ou carentes, ou pior, muito bêbados? Ficavam lá, empatando geral, tentando puxar assunto. E eu tentando me controlar pra não dar um 'chega pra lá' no indivíduo.
Mas o que eu achava incrível era quando ouvia alguém que nunca vi na vida falar pra outro "pode ir pegar cerveja, eu tô perto desse cara aqui". Fala sério. Tanta coisa pra servir de referência e o cara me escolhia. Só de sacanagem eu ia andando devagar pro lado e o cara ia me seguindo. Ou então eu ia atrás do que foi pegar cerveja, confundindo os dois. Era até engraçado.
Outro 'uso' muito popular do gigante aqui em festas era servir de periscópio. Toda hora chegava alguém e pedia 'acha o fulano aí pra mim' e eu dava uma geral no ambiente e apontava a direção. Mas, aí vem também uma vantagem. Se a 'requisitante' fosse muito gata, mesmo se eu avistasse o sujeito falava "ih, num tô vendo não. Fica por aqui um pouco que ele aparece." Aí eu tentava transformar esse pouco em muito, muito, e ainda mais um pouquinho...
Aí vem outra desvantagem de ser muito alto. Pra chegar na boca das meninas era um contorcionismo... Eu geralmente me encostava na parede, ia tombando pro lado da menina, entortando ao máximo o pescoço e abaixando a cabeça pra atingir a altura ideal. Isso me rendeu cenas muito ridículas, quando a pessoa era muito mais baixa. Ficava que nem o corcunda de notre dame, só envergando pra baixo. Mas pra resolver isso usava as escadas, calçadas, banquinhos e qualquer outra coisa que eu pudesse colocar a vítima, digo, menina num patamar mais alto.
Voltando aos shows, tinha uma (des)vantagem de ser grande, o tal de "deixa eu subir nos seus ombros". Ah, eu detestava. Colocava a menina nos ombros e pra dar equilíbrio, sem a menor intenção, eu era obrigado a segurar nas pernas, bem firme. Tinha show que dava fila. E eu nuuuunca aproveitava pra tirar umas casquinhas...
Outro problema era usar boné. Eu tinha que redobrar minha atenção, senão chegava em casa com uns três galos na cabeça. Qualquer árvore, placa, lustre ou porta era convite pra dar uma cabeçada. Ah, e como bate a cabeça um bitelo... Se for chifrudo então, não passa em porta nenhuma!
E tinha ainda a função de utilidade pública, pegar ou colocar coisas no alto. Todo mundo que eu visitava arranjava um tal de "aproveitando que você está aqui, pega o edredon em cima do armário." Bom, edredon tudo bem, pior é quando era ventilador, mala, caixa de livros... Haja coluna!
No próximo post descrevo a vida em um metro e meio. Ah, como fazem falta aqueles 45 cm...

4 comentários:

  1. Agora, pelo menos, dá pra olhar pra bunda da mulherada sem ninguém perceber :)

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  2. Ah, cara, chorei de rir aqui, de ler que vc ia escorregando pela parede. Confesso que sempre fugi de homem alto, justamente porque essa diferença de altura (eu tenho 1m64) sempre parece que vai provocar torcicolo...
    No mais, tô esperando as vantagens e desvantans de ter 1m, heim?!
    Quero ver o que é melhor, muito embora eu saiba o que signifca ser baixa... hahaha
    Por outro lado, acho que é uma sorte - e também um azar - conhecer mais de um lado da vida, não? Pelo menos, a gente tem algo intessante pra dizer...
    Beijinhos

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  3. Pô Dado, vc já adiantou uma vantagem de ser baixinho! kkkk
    Ah Lak, eu sempre namorei mulher baixinha, geralmente menos de 1,65m. Tem um ditado de uma amiga minha que eu usava muito: "juntou umbigo com umbigo, o resto é perna". Mulher baixinha é melhor, joga prum lado, joga pro outro e é mais divertido! Beijos

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  4. Sam, pegando o gancho do Dado, leia o que escrevi ano passado sobre o assunto http://tocandoavidasobrerodas.blogspot.com/2008/06/bunda.html

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