sexta-feira, 29 de maio de 2009

A casa amarela

Repito a foto do post anterior, mas agora vou falar da casa amarela. Alguém deve ter pensado "que casa gigante ele morava" quando viu a foto. Era gigante mesmo. E cheia de histórias. Eu, como sempre, dava minha interpretação às histórias. Uma delas dizia que a casa foi cadeia, foi também o primeiro hospital de Viçosa, foi a primeira creche, e eu acrescentava que estava em vias de se tornar manicômio, dado os malucos que lá habitavam (eu inclusive). Outra coisa que eu dizia, verídica, que eu tinha visto uma foto da casa em 1927 e ela já era velha. O mais incrível eram as paredes, feitas de pau a pique, só umas ripas com barro, só alguns lugares tinha tijolo. De vez em quando caía um pedaço da parede.
O casarão era sinistro. Eram oito quartos, dois banheiros, um com uma banheira branca daquelas antigas, uma sala gigante, dois halls e uma cozinha com fogão a lenha e serpentina pra esquentar água (ô trem antigo heim). Isso tudo pra três a cinco moradores. Dividíamos a casa com o dono, um dentista antigo da cidade, ele morava em um terço da casa, as três primeiras janelas, e nós nos dois terços restantes. Isso porque a casa era maior do nosso lado, ia quase até o fim do terreno, como dá pra ver na foto abaixo.
Um dos quartos que dava pra cozinha (três deles eram assim) era cheio de tralha, pedaço de cama, estante, uma bagunça só. Outro deles era muito pequeno, mal cabia uma cama, então era desativado. E tinha o terceiro da cozinha, totalmente sinistro, um cara que morou lá, xará meu, pintou as paredes com os desenhos mais sombrios que já vi na vida. Tinha vários dizeres que me recuso a reproduzir aqui, mas pra terem idéia, tinham menções satânicas. Tinha gente que entrava nesse quarto e saia de ré, morrendo de medo e fazendo o sinal da cruz.
Eu morei em três quartos. O melhor era o primeiro, que pegava as duas janelas da frente. Vocês podem até achar que é sacanagem, mas quando morei nele eu ia tomar banho de bicicleta. Sério mesmo! E não era perto não. Minha bike ficava encostada no hall de entrada, eu pegava ela, passava em frente a três quartos, pelo segundo hall, aí vinha a sala gigante, entrava na cozinha, passava por mais um quarto e chegava ao banheiro. Encostava a bike, e depois era só pegar o caminho inverso.
Como nos divertíamos na casa. Churrasco e jogo de baralho era quase toda semana. Festinhas, públicas ou particulares, também. Fizemos uma mega-festa uma vez, foram mais de 300 pessoas, alugamos caixas de som de boate, semi profissionais, enchemos a banheira de gelo e cerveja, e num dos quartos colocamos cinco freezers. Era o quarto-bar. O quarto sinistro virou quarto-boate, colocamos um jogo de luz, ficou muito legal. E o quarto pequeno da cozinha ficou pro som, que cada hora um controlava. O nome da festa? "Um dia a casa cai". Fiz até fichinhas de cerveja, foi profissa mesmo, até pensei em entrar pro ramo. Mas em Viçosa esse mercado é muito concorrido. Mas que ficou na história da casa, ficou.
Pior é que a casa um dia caiu mesmo. Depois que eu já havia saído de lá, me contaram que o cara estava bem usando o banheiro, sentado no trono, e de repente o forro do teto desbou em cima do coitado. Ouvi dizer que ele se borrou todo. (ai, que piadinha infame)
Há pouco tempo o casarão foi demolido para a construção de um prédio, mas mantiveram a fachada. Preserva um pouco da história da cidade, e da minha também!

2 comentários:

  1. Tomar banho de bicicleta... Você realmente sempre foi lesado das idéias... hihihihi
    Pergunta que me ocorre: vc aproveitava pra lavar a bike?
    Beijos

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  2. Bem pensado, Lak! Nem me passava pela cabeça, já que a bike ficava do lado de fora. Que desperdício!

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