terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amigo pá caralho (4)

Se for contar tempo de casa, esse cara aí é o campeão. Conheço a figura desde os 7 anos de idade, é mole? Estudamos juntos a maior parte dos primeiro e segundo graus (é, somos dessa época) e fomos vizinhos durante a adolescência toda. Conclusão, fizemos muita, mas muita bagunça juntos. E o Léo era fogo no rabo. Era o tipo do cara que saía de casa pensando assim: que que eu vou fazer de errado hoje?...
Incrível a criatividade dele. Tem uma cena que eu nunca vou esquecer. Léo morava diagonalmente à minha casa,  e entre a casa dele e a casa do meu vizinho de frente, havia uma passarela (coisa de interior). Um belo dia, estou na cozinha e ouço um barulho de fortes porradas, como se algo estivesse desabando. Saio na rua e vejo uma figura de óculos de natação, um lenço amarrado na cabeça, jaqueta jeans e joelheira de bicicross metendo marretada no muro do vizinho com toda força bem no meio da tarde. Cheguei perto e só ouvi o maluco rindo e gritando:
- Mister Marreta! Mister Marreta!
Claro que o vizinho apareceu e ele saiu correndo, e depois levou uma bronca do pai, mas tudo era festa. Entre as dezenas de peripécias que aprontei com Léo, teve uma histórica: o roubo do fusquinha. Morávamos em Ouro Branco, e muita gente comprava um carro mais velho pra ir pra Usina trabalhar junto e economizar uma grana. Eis que descobrimos que um fusca do pai de um amigo nosso ligava sem chave, era só apertar um interruptor embaixo do banco traseiro. Foi só bolar o plano infalível e pegamos o Véio, outro vizinho, como comparsa. A gente ia ficar acordado até tarde, empurrava o fusquinha até a esquina, descia ladeira abaixo e pegava no tranco. Moleza.
Só que escolhemos um dia que tinha jogo de copa do mundo até de madrugada. Ficamos rodando pela cidade pra passar o tempo e achamos uma boa atividade: karatê. Um de nossos vizinhos estava reformando o telhado e deixou as telhas novas na frente da casa em fila. A gente se posicionava lado a lado, contava até três e "karateeee!!!" dava uma voadora na fileira de telhas, quebrando um monte e fazendo aquele barulhão. Depois a gente saía correndo, mas tínhamos a cara de pau de voltar, contar quantas cada um tinha quebrado, limpar tudo e ainda mandava mais um karateeee!!! Rachando de rir, claro.
Voltando ao fusca, deu umas quatro da manhã, abrimos o carro, Léo no volante, eu e Véio empurrando. Primeira ladeira, o fusca não pegou. Empurramos mais, segunda ladeira, o fusca quase, quase, ligou, mas morreu logo depois. Andamos mais uns metros e paramos ele numa avenida pra descansar.
Nisso veio um carro no sentido contrário, e nós, resolvemos nos esconder atrás do fusca. Resultado, o cara, talvez meio neurótico, resolveu nos perseguir. Acelerou e nós saímos correndo. Subimos uma passarela e o cara deu a volta no quarteirão. Eu e Léo pulamos o muro e escondemos no jardim de uma casa, e o Véio correu pra outro lado. O cara do carro apareceu e ficou rondando, eu e Léo só olhando pela beirada do muro. De repente, vemos o Véio pulando um muro de uns três metros e saindo correndo, e o carro atrás dele acelerando a toda. Parecia cena de filme, nunca mais esqueço: o cabelo loiro do Véio contra o farol do carro atrás dele vindo a toda. Só deu tempo de ele entrar de novo na passarela e o carro passar pra dar a volta e procurar o Véio lá embaixo de novo. Eu e Léo aproveitamos e subimos pra nossa rua. Depois de uma meia hora chega o Véio mais branco que fantasma e xingando a gente de tudo quanto é nome, jurando que nunca mais saía com a gente de novo. Galinha que anda com pato morre afogado...
Mais algumas coisinhas que fizemos juntos: pixamos muros, roubamos frutas, quebramos vidros, subimos em árvores, andamos em cima de muros, pulamos cerca, pegamos carona em ônibus de bicicleta, quebramos lanternas de ônibus, quebramos vidros de ônibus, descemos ladeira de carrinho de rolimã, jogamos bete, brincamos de salada de fruta com as empregadas, apagamos padrão dos vizinhos,  irritamos os cachorros dos vizinhos, pegamos as filhas dos vizinhos, batemos nos filhos dos vizinhos, amassamos para-lamas de fuscas, quebramos grades, etc, etc, etc. Acho que isso explica um pouco a festa que houve em Ouro Branco depois que fomos embora de lá...

Um comentário:

  1. Não sei se fico feliz em saber que marido Leo e seu melhor amigo Sam tiveram uma infância de invejar muita gente, pois foram livres, brincaram na rua, não ficavam horas na frente de um vídeo game, etc... ou se choro em saber que eles têm uma queda para o "vandalismo", precisava de destruir tanta coisa???
    Na verdade eu me orgulho muito dessa amizade, quem dera todos nós tivéssemos na vida amigos como estes dois são, amigos em que podemos contar sempre, amigos cumplices que se amam como irmãos.
    Sam, você é um cunhadinho torto para mim, uma pessoa que aprendi a gostar e admirar, obrigada por hoje você também fazer parte da minha história.
    Um beijo enorme.

    Renata

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