terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnavais passados

Tenho usado esse blog pra registrar algumas histórias antigas, vou então relembrar meus primeiros (e loucos) carnavais fora de casa, destacando alguns eventos:
- 92: aos 18 anos, primeiro canaval longe de casa - nem valia a pena sair de Ouro Branco, de tão bom que era, mas esse ano fui pra Ouro Preto com a namorada. Foi muito bom, fiquei na casa dos avós de um vizinho meu, bem na Rua Direita. No segundo dia de carnaval, combinei com Léo Maconha (sim, esse é o apelido dele - não é o Léo debaixo não) de encontrar na frete da casa às quatro da matina. Cheguei na hora, esperei meia hora e avistei ao longe um casal vindo em zigue-zague: Léo e uma maluca que ele conheceu não sabia onde. E ele:
- Cara, perdi a chave, não dá pra entrar agora não. Mas não esquenta, meus avós acordam lá pelas nove da manhã.
Ótimo, faltavam só quatro horas e meia. Subi a rua Direita me arrastando de sono até a praça Tiradentes e não acreditei no que vi: um hotel a céu aberto. Tinha pelo menos uns trinta colchonetes espalhados pelo chão e mais uma galera encostada nos cantos. Descolei um cantinho na macia pedra do monumento e dormi que nem criança até oito da manhã, quando acordei com a orelha vermelha de sol e a perna melada de cerveja. Ah, a adolescência...
Desci, encontrei o Léo ainda mais doido do que da primeira vez, e o que é incrível: ele perguntou pra uma varredora de rua que passava por ali e ela encontrou a chave! Entramos e tomamos café, depois deitei na cama mais macia do mundo.
- 93: primeiro carnaval muito longe de casa - em Porto Seguro. Combinei com um amigo de república que tinha alugado uma casa com amigos de Brasília e fui de busão pra terra do Axé. Peguei a época de passarela do álcool e timbalada, assisti um espetáculo de dança africana no Reggae Night com uma mulata com os peitos de fora, fui a Trancoso e vi um monte de mulher pelada e pela primeira vez na vida peguei três mulheres na mesma noite - estava no paraíso.
Detalhe da casa: eram dois quartos, um deles tinha uma cama de casal, outro tinha uma beliche e uma cama de solteiro. Detalhe dos amigos: dois carros vindos de Brasília: uma Brasília com quatro e um Passat com cinco, mais eu de busão. Dormiam três na sala de entrada e dois na sala de jantar, um com a cabeça na cozinha.
Um dos caras de Brasília, o Grilo, ficou mega chapado na passarela do álcool, começou a falar em espanhol (mesmo sem saber) e numa dessas passou uma morena de vestidinho listrado preto e branco. E o Grilo: - Que morenita listradita, parece uma Zebrita! E virou pra trás, estabacando no chão e apagando, só acordou meia hora depois.
Numa noite, Marcelo pegou uma mulher numa esquina e levou pra casa. Tinha uns três em casa, ele foi pro quarto e executou. Ela queria mais, outro partiu pra cima. Virou bagunça, mais um na fila. Chegou no quarto, ela virou pro cara e pediu: - deixa eu mudar de posição, minha perna tá dormente...
- 94: carnaval com amigos de Viçosa em Piúma num apartamento alugado a dois quarteirões da praia. Quantas pessoas? Nem sei, umas quinze ou vinte. Detalhe: eu tinha acabado de operar o ombro, o médico recomendou fortemente que eu não bebesse, que não ficasse sem camisa e que trocasse o curativo a cada doze horas. Tinha que usar tipóia o tempo todo.
Imaginem a cena: segundo dia de carnaval, você é uma morena linda, médica recém formada, veio de Vitória e está passando o primeiro carnaval mais tranquila depois de anos ralando na faculdade. Você está com amigas, e de repente nota uma figura se destacando na multidão, uma cara alto, sem camisa, com pontos à mostra no ombro, uma tipóia solta pendurada e uma garrafa de gatorade na mão. Curiosa, você fica olhando, afinal, é médica. O cara percebe e chega junto, querendo saber seu nome, de onde você é. Você responde educadamente e pergunta sobre os pontos e a tipóia. O maluco conta a história da operação e das recomendações médicas e oferece o gatorade. Antes de tomar você cheira e percebe que é uísque. Quando vai começar a dar bronca no sujeito ele ataca e começa a te beijar. Sem acreditar, tentando se afastar, você percebe que o ombro dele está bem fortinho. Bem, fazer o que, é carnaval! Deixa ele se estrupiar pra lá e vamos aproveitar também, afinal ele beija tãaaao bem!
- 95: em Cabo Frio com amigos de Ouro Branco, desta vez com o Léo do post abaixo. Se não me engano ficamos na casa da tia dele. Bem perto tinha outros amigos de OB e sempre encontrávamos perto do hotel Malibu, onde o pau quebrava.
O fato curioso deste é engraçado mas queimava o filme, os caras não tinham noção mesmo. Ficávamos quatro de um lado e quatro do outro, e aquela fila passando no meio da gente. De repente a gente via uma menina gata, com cara de metida, e começava a gritar em coro:
- Ohhhhhh!! Ohhhhh!! Ohhhhh!!!
Aí a menina já fazia uma cara de esnobe, mas dava uma risadinha cínica e quando ela chegava bem no meio a gente fechava a roda com ela no meio, completava o refrão rodando e gritando:
- Horrorosa, feia pra caralho! Horrorosa, feia pra caralho! Horrorosa, feia pra caralho!!
A menina faltava matar, tentava bater pra sair da roda, xingava tudo quanto é nome, e depois a gente liberava, mas rachava o bico de rir, era muito engraçado!
Tem muito mais história, em 96 fui pra Piúma de novo, levamos quatro frascos de lança perfume, rolou até fila de mulher pra experimentar o danado na praia, depois de pago o devido pedágio, claro. 97 passei em Marataízes, 98 em Piúma... por aí a fora vai. O fato é que sempre me diverti pra caramba!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amigo pá caralho (4)

Se for contar tempo de casa, esse cara aí é o campeão. Conheço a figura desde os 7 anos de idade, é mole? Estudamos juntos a maior parte dos primeiro e segundo graus (é, somos dessa época) e fomos vizinhos durante a adolescência toda. Conclusão, fizemos muita, mas muita bagunça juntos. E o Léo era fogo no rabo. Era o tipo do cara que saía de casa pensando assim: que que eu vou fazer de errado hoje?...
Incrível a criatividade dele. Tem uma cena que eu nunca vou esquecer. Léo morava diagonalmente à minha casa,  e entre a casa dele e a casa do meu vizinho de frente, havia uma passarela (coisa de interior). Um belo dia, estou na cozinha e ouço um barulho de fortes porradas, como se algo estivesse desabando. Saio na rua e vejo uma figura de óculos de natação, um lenço amarrado na cabeça, jaqueta jeans e joelheira de bicicross metendo marretada no muro do vizinho com toda força bem no meio da tarde. Cheguei perto e só ouvi o maluco rindo e gritando:
- Mister Marreta! Mister Marreta!
Claro que o vizinho apareceu e ele saiu correndo, e depois levou uma bronca do pai, mas tudo era festa. Entre as dezenas de peripécias que aprontei com Léo, teve uma histórica: o roubo do fusquinha. Morávamos em Ouro Branco, e muita gente comprava um carro mais velho pra ir pra Usina trabalhar junto e economizar uma grana. Eis que descobrimos que um fusca do pai de um amigo nosso ligava sem chave, era só apertar um interruptor embaixo do banco traseiro. Foi só bolar o plano infalível e pegamos o Véio, outro vizinho, como comparsa. A gente ia ficar acordado até tarde, empurrava o fusquinha até a esquina, descia ladeira abaixo e pegava no tranco. Moleza.
Só que escolhemos um dia que tinha jogo de copa do mundo até de madrugada. Ficamos rodando pela cidade pra passar o tempo e achamos uma boa atividade: karatê. Um de nossos vizinhos estava reformando o telhado e deixou as telhas novas na frente da casa em fila. A gente se posicionava lado a lado, contava até três e "karateeee!!!" dava uma voadora na fileira de telhas, quebrando um monte e fazendo aquele barulhão. Depois a gente saía correndo, mas tínhamos a cara de pau de voltar, contar quantas cada um tinha quebrado, limpar tudo e ainda mandava mais um karateeee!!! Rachando de rir, claro.
Voltando ao fusca, deu umas quatro da manhã, abrimos o carro, Léo no volante, eu e Véio empurrando. Primeira ladeira, o fusca não pegou. Empurramos mais, segunda ladeira, o fusca quase, quase, ligou, mas morreu logo depois. Andamos mais uns metros e paramos ele numa avenida pra descansar.
Nisso veio um carro no sentido contrário, e nós, resolvemos nos esconder atrás do fusca. Resultado, o cara, talvez meio neurótico, resolveu nos perseguir. Acelerou e nós saímos correndo. Subimos uma passarela e o cara deu a volta no quarteirão. Eu e Léo pulamos o muro e escondemos no jardim de uma casa, e o Véio correu pra outro lado. O cara do carro apareceu e ficou rondando, eu e Léo só olhando pela beirada do muro. De repente, vemos o Véio pulando um muro de uns três metros e saindo correndo, e o carro atrás dele acelerando a toda. Parecia cena de filme, nunca mais esqueço: o cabelo loiro do Véio contra o farol do carro atrás dele vindo a toda. Só deu tempo de ele entrar de novo na passarela e o carro passar pra dar a volta e procurar o Véio lá embaixo de novo. Eu e Léo aproveitamos e subimos pra nossa rua. Depois de uma meia hora chega o Véio mais branco que fantasma e xingando a gente de tudo quanto é nome, jurando que nunca mais saía com a gente de novo. Galinha que anda com pato morre afogado...
Mais algumas coisinhas que fizemos juntos: pixamos muros, roubamos frutas, quebramos vidros, subimos em árvores, andamos em cima de muros, pulamos cerca, pegamos carona em ônibus de bicicleta, quebramos lanternas de ônibus, quebramos vidros de ônibus, descemos ladeira de carrinho de rolimã, jogamos bete, brincamos de salada de fruta com as empregadas, apagamos padrão dos vizinhos,  irritamos os cachorros dos vizinhos, pegamos as filhas dos vizinhos, batemos nos filhos dos vizinhos, amassamos para-lamas de fuscas, quebramos grades, etc, etc, etc. Acho que isso explica um pouco a festa que houve em Ouro Branco depois que fomos embora de lá...