sexta-feira, 29 de maio de 2009

A casa amarela

Repito a foto do post anterior, mas agora vou falar da casa amarela. Alguém deve ter pensado "que casa gigante ele morava" quando viu a foto. Era gigante mesmo. E cheia de histórias. Eu, como sempre, dava minha interpretação às histórias. Uma delas dizia que a casa foi cadeia, foi também o primeiro hospital de Viçosa, foi a primeira creche, e eu acrescentava que estava em vias de se tornar manicômio, dado os malucos que lá habitavam (eu inclusive). Outra coisa que eu dizia, verídica, que eu tinha visto uma foto da casa em 1927 e ela já era velha. O mais incrível eram as paredes, feitas de pau a pique, só umas ripas com barro, só alguns lugares tinha tijolo. De vez em quando caía um pedaço da parede.
O casarão era sinistro. Eram oito quartos, dois banheiros, um com uma banheira branca daquelas antigas, uma sala gigante, dois halls e uma cozinha com fogão a lenha e serpentina pra esquentar água (ô trem antigo heim). Isso tudo pra três a cinco moradores. Dividíamos a casa com o dono, um dentista antigo da cidade, ele morava em um terço da casa, as três primeiras janelas, e nós nos dois terços restantes. Isso porque a casa era maior do nosso lado, ia quase até o fim do terreno, como dá pra ver na foto abaixo.
Um dos quartos que dava pra cozinha (três deles eram assim) era cheio de tralha, pedaço de cama, estante, uma bagunça só. Outro deles era muito pequeno, mal cabia uma cama, então era desativado. E tinha o terceiro da cozinha, totalmente sinistro, um cara que morou lá, xará meu, pintou as paredes com os desenhos mais sombrios que já vi na vida. Tinha vários dizeres que me recuso a reproduzir aqui, mas pra terem idéia, tinham menções satânicas. Tinha gente que entrava nesse quarto e saia de ré, morrendo de medo e fazendo o sinal da cruz.
Eu morei em três quartos. O melhor era o primeiro, que pegava as duas janelas da frente. Vocês podem até achar que é sacanagem, mas quando morei nele eu ia tomar banho de bicicleta. Sério mesmo! E não era perto não. Minha bike ficava encostada no hall de entrada, eu pegava ela, passava em frente a três quartos, pelo segundo hall, aí vinha a sala gigante, entrava na cozinha, passava por mais um quarto e chegava ao banheiro. Encostava a bike, e depois era só pegar o caminho inverso.
Como nos divertíamos na casa. Churrasco e jogo de baralho era quase toda semana. Festinhas, públicas ou particulares, também. Fizemos uma mega-festa uma vez, foram mais de 300 pessoas, alugamos caixas de som de boate, semi profissionais, enchemos a banheira de gelo e cerveja, e num dos quartos colocamos cinco freezers. Era o quarto-bar. O quarto sinistro virou quarto-boate, colocamos um jogo de luz, ficou muito legal. E o quarto pequeno da cozinha ficou pro som, que cada hora um controlava. O nome da festa? "Um dia a casa cai". Fiz até fichinhas de cerveja, foi profissa mesmo, até pensei em entrar pro ramo. Mas em Viçosa esse mercado é muito concorrido. Mas que ficou na história da casa, ficou.
Pior é que a casa um dia caiu mesmo. Depois que eu já havia saído de lá, me contaram que o cara estava bem usando o banheiro, sentado no trono, e de repente o forro do teto desbou em cima do coitado. Ouvi dizer que ele se borrou todo. (ai, que piadinha infame)
Há pouco tempo o casarão foi demolido para a construção de um prédio, mas mantiveram a fachada. Preserva um pouco da história da cidade, e da minha também!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O carro amarelo

Meu primeiro carro foi a realização de um sonho. Consegui comprá-lo depois de muita batalha como estagiário em Viçosa e uma batalha maior ainda pra não gastar a grana que eu juntei com festa. E meu pai deu aquela força também, o presente de formatura foi completar o valor do carro. Deixei com ele o que eu tinha disponível e ele descolou em BH um Uno 1.5R amarelo, carinhosamente apelidado de Uno 1.5Egg.
Era muito mais do que eu sonhava. O carro tinha ar condicionado, vidros elétricos, bancos confortáveis e um motor bem forte, apesar de ser fabricado na argentina. Este detalhe me rendeu boas horas procurando peça pro danado do motor argentino. Revirei quase todos as lojas de peças usadas (dá um desconto, eu era estudante) na avenida Pedro II, reduto deste mercado aqui em BH (e de alguns desmanches também).
Mas como eu me sentia feliz com o meu Egg! E como tenho história com ele. Foram mais de 40.000 km rodados, pra tudo quanto é canto do Brasil. Eu sempre curti acampar em parques nacionais, reservas florestais e cachoeiras maravilhosas. Em Minas fui em quase todos.
Em uma dessas aventuras fui conhecer o Parque Nacional da Serra da Canastra. Dá pouco mais de 300 km de Belo Horizonte, coloquei a barraca e as tralhas no carro e saí com a namorada lá pelas dez da manhã. Apesar de eu andar bem, gosto de ir parando nas cidadezinhas e curtindo o visual. Nesse ritmo acabou escurencendo justamente quando peguei a estrada de terra pro parque. Andamos, andamos, andamos e nada de chegar o parque. Eu já estava em dúvida se era o caminho certo, resolvi parar por ali pra continuar no dia seguinte. Vi uma descidinha que dava em uma clareira, parei o carro e montei a barraca ali mesmo. De tão cansados caímos no sono rapidinho.
Mas de manhã... de repente um barulho muito forte invadiu a barraca. Acordamos meio zonzos e ouvimos mais barulho ainda. Meio assustado, abri a porta da barraca e dei um pulo pra trás. Dei de cara com a cabeça gigante de uma vaca, que tentava comer a corda da porta da barraca. Dei uns berros pra bicha se afastar e quando saí da barraca estávamos cercados por um rebanho, já tinha uma vaca em cada corda e uma já estava mastigando um pedaço. Pra conseguir afastar todas foi uns dez minutos berrando. E a quantidade de cocô em volta? Tive que tirar uma estaca do meio da merda. São percalços de camping, mas eu sempre adorei acampar.
Depois que desmontei a barraca para continuar descobri que estava a menos de 10 km do parque. E como valeu a pena, a cachoeira que corta a serra tem mais de 200 metros, montei a barraca ao lado do rio e ficava ouvindo a noite toda o barulhinho da água. Não tem nada mais relaxante. E ainda conheci a nascente do rio São Francisco.
Outra coisa que eu curtia demais era festas em cidades do interior. Numa dessas fui com meu irmão e um colega de república na festa da cerveja em Divinópolis. Era junho e fazia um frio danado. Saímos do parque de exposições onde acontecia a festa, todo mundo meio mamado, e a precaução falou mais alto e resolvemos dormir por lá. Mas, dois probleminhas: os hotéis estavam cheios, o único que encontramos era além das nossas po$$ibilidades. Ah, o carro... três dormindo não ia ser confortável. Rebaixei os bancos traseiros e dormimos encolhidos no porta malas. Batendo queixo... mas pelo menos de manhã eu estava novo em folha, pudemos seguir viagem.
Ah, que saudade do meu amarelinho...

sábado, 23 de maio de 2009

Expressões que os cadeirantes não podem mais usar (ou devem adaptar)

Algumas expressões que usamos no dia a dia são engraçadas, outras incoerentes, e ainda tem as sem sentido, sem noção, daquelas que é difícil entender de onde é que tiraram isso. Quando a gente vira cadeirante, passa a prestar atenção em algumas, e chega a ser irônico, por exemplo, falar que vai dar um "pé na bunda" de alguém. Eu busco sempre a alternativa do "cadeirantês" (hm, boa idéia criar um dicionário nosso. Aguardem...), nesse caso seria dar uma cabeçada na bunda. O efeito é o mesmo, provavelmente um "cata cavaco" pro chão afora. Ou um capote "enterra corno" tipo avestruz enfiando a cabeça no chão. Outras expressões:

- Bater em pé, quando estiver jogando baralho - é a primeira non sense, porque será que falam isso se continua todo mundo sentado?
- Passar a perna em alguém - é até bom que os cadeirante ficam mais honestos. Se bem que a versão cadeirante pode ser passar a mão, aí ainda ficam meio sacanas.

- Encoxar alguém - hmmm, essa eu sinto falta... vixe, pensei bobagem. Se bem que acho que essa expressão nunca é usada sem sacanagem. Mas dá pra encoxar deitado... (obs: uma vantagem da cadeira é não ficar espremido em ônibus lotado. Irc!)
- Entrar em casa pé ante pé - será que não dá pra ser roda ante roda? Isso atrapalha muito o cadeirante, se a gente fica na zuada até de madrugada, invariavelmente a mulher vai acordar quando chegarmos em casa. É flagra garantido.

- Ajoelhou tem que rezar - devido ao duplo sentido (ou triplo) é até bom não usar mesmo. Eu não faço questão nenhuma de ajoelhar, a não ser pra rezar mesmo!
- Tirar água do joelho - também não sei quem foi o 'criativo' que relacionou a urinada com o joelho, será de que planeta era ele? Nós temos que usar o básico "vou dar uma mijada", ou como diz o tio Jairo, vou fazer xixi pelo canudinho. Ai, essa é terrível.

- Por o pé na estrada - essa também é sem noção, deve ser invenção do Forest Gump. Afinal, quantas pessoas põe mesmo o pé na estrada? Já devia ter sido trocado por "por a roda na estrada" há muito tempo. Mais realista e inclusiva.
- Dar no pé - porque esse povo cisma tanto com o pé? Eu uso a famosa 'tô vazando' mesmo, mas essa bem que serviria pra substituir o "tirar água do joelho". Pior que se estiver vazando mesmo molha a cadeira toda.

- Trocar os pés pelas mãos - essa expressão já significa que a pessoa se atrapalhou, no caso do cadeirante então deve significar desastre, pois com os pés não dá pra fazer muita coisa não. Se bem que seria útil de vez em quando...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Causos pré-lesão - foras

Quem nunca deu um fora na vida? Ou pelo menos presenciou um vacilo daqueles que a pessoa fica vermelha e parece até que diminui de tamanho? Eu, como todo extrovertido engraçadinho, já passei, presenciei e causei muitos foras, ou como falávamos na época, má notas. Lembrei de alguns e depois coloco outros que lembrar, aproveite e dê sua contribuição.
- O pintão
Pra quem não sabe, tenho uma pinta (ou mancha) de nascença atrás do joelho direito que já me rendeu boas risadas. E foi útil também, quando nasci, antes de ir pra maternidade meu pai notou a pinta e falou: esse ninguém troca, já tá marcado que é o meu! Na época aconteciam muitas trocas na maternidade. Pelo menos teoricamente sou filho do meu pai mesmo. Mas o fora foi muuuitos anos depois. Eu tinha 17 anos, estava começando um namoro e fui até a casa da namorada, que morava ao lado de três primas. Descemos pra rua, como é comum em cidade pequena, e sentamos na calçada, e de frente pra mim, na rua, sentou a prima mais nova dela, de 13 anos na época. Eu, que geralmente andava de bicicleta pra todo lado, estava com um short bem curto, e como todo adolescente largado, sentei com as pernas abertas. De repente, no meio do papo, a menina olha pra minha perna, arregala os olhos e aponta, gritando:
- Nossa, que pintão!
Na hora eu fechei as pernas e pus as mãos no short falando:
- Poxa, se tava aparecendo pelo buraco do short você podia ter sido mais discreta, né?
A coitada da menina ficou roxa, nem foi vermelha de vergonha não. E todo mundo caiu na risada e ela tentando explicar "não, é a pinta na perna, não é isso não". Mas já estava feita a confusão. todo mundo rindo dela e ela acabou rindo também, mas ainda tentava explicar "é a pinta, a pinta". Tadinha! Mas que foi engraçado foi. Depois disso fiz outras vezes, saia de short de propósito e ficava de frente pra quem eu não conhecia, só pra matar alguém de vergonha.
Em outras oportunidades, quando alguém falava que tinha um pé na África, eu dizia que tinha uma perna lá, e que a cada ano a pinta crescia mais, e em vinte anos eu ia ficar preto. Ou então eu falava que era primo da Angélica, e ainda tinha gente que acreditava!

- Leite de saco
Em Viçosa eu morava em um prédio cheio de repúblicas, no nosso andar eram quatro, e num certo ano mudaram uns calouros pro andar de baixo. Fomos todos dar as boas vindas e cobrar as devidas cervejas de integração, e de repente começamos a falar sobre tomar leite na infância. Eu comentei que em Ouro Branco, onde eu morava, passava uma carroça vendendo leite direto da fazenda, e minha mãe comprava quatro litros, dois pra mim e dois pro resto da casa (é verdade!). Falei como o leite dava nata grossa, e o quanto era saudável, e tudo. Eis que de repente um calouro, carioca da gema, todo malandrão solta a pérola:
- Nem sei como é isso, fui criado desde pequeno tomando leite de saco.
Fuzuê geral. Todo mundo rachando de rir e eu completo:
- É rapá, acho que seu pai que te amamentou heim!
O calouro não sabia onde enfiava a cara. Pior que tava cheio de mulher lá, todas rindo muito, e o cara, cada vez mais vermelho balbuciava "quis dizer leite de saquinho, de saquinho pô!" Não adiantou, e ainda deu sorte de não pegar o apelido de leite de saco.

- O bola magrelo
Essa eu li no orkut, na comunidade de micos, mas como é muito engraçada repito aqui. O cara mudou há pouco pra cidade e foi fazendo amizade com a galera. E foi conhecendo os apelidos: borréia, sovaco, marreco, essas coisas de adolescente. Eis que conhece o cara mais magro da turma, aquele tipo 'dublê de agulha':
- Esse é o bola.
- Ué, como assim, o cara é magro.
- É que ele faz natação, teve uma competição aqui na cidade uma vez, foi todo mundo pra ver e torcer, e o infeliz aqui chegou em primeiro na categoria dele. Todo feliz, ele sai da água e vai passando pela arquibancada. Todo mundo rindo muito, gritando, e ele acenando, agradecendo, mas eis que chega um amigo pro cara e fala:
- Ô seu animal, presta atenção, o povo tá rindo porque uma de suas bolas está pra fora da sunga.
Pronto, virou "o bola".
Por hoje é só pessoal, lembrando de mais posto aqui!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O bitelo e o tampínha (parte 2)

Quando eu era alto sempre pensava "deve ser um saco ser baixinho". Agora posso falar por experiência própria: é um saco ser baixinho! Não alcanço mais nada, até um prato no armário da cozinha tenho que pedir pra alguém pegar. O que salva nesse quesito são meus braços gigantes, ainda alcanço alguma coisa. Mas no geral, é humilhante pedir pra minha namorada, de 1,65m, pegar alguma coisa pra mim. Fazer o que, né? Ainda bem que tem alguém pra pegar. Pelo menos agora acabou aquele negócio de "pega aquilo no alto ali pra mim". É minha vingança, agora sou eu que peço! E ai de quem negar, tô em crédito com quase todo mundo que conheço.
Duas coisas estranhei demais no começo, quando deixei de ser alto. Quando encontro alguma amiga, ela vem me comprimentar e se abaixa pra dar um beijinho, e eu estico o pescoço. E com minha namorada, ela abaixa e eu, de novo, dou aquela esticada pra conseguir beijá-la. Sempre foi o contrário. Mas em compensação, o abraço melhorou muuuuito. A cara fica no macio, e as mãos, por 'descuido', também encontram algo macio. Concordando com meus amigos Evandro e Dado, a visão melhorou demais da conta! Antes eu só via cabeças, agora peitos, bundas, coxas...
Outra coisa foi conversar em uma roda de amigos. Fico olhando pra cima o tempo todo, faço força pra ouvir o que se passa no "andar de cima" e ainda pra chamar a atenção de alguém tenho que berrar ou dar um cutucão na pessoa. Triste é quando o povo esquece que você está ali e engrena numa discussão qualquer, sem nem olhar pra baixo ou perguntar sua opinião.
O tal do elevador também se tornou um obstáculo. Quando dá pra entrar e virar a cadeira, tudo bem. Se não, tenho que ficar de costas e me contorcer todo pra enxergar em que andar está. E se tiver gente atrás de mim, já era. Vou na sorte ou pergunto pra alguém. Pra alcançar os botões também é bem difícil sentado e de costas, e ainda se for andar muito alto, não dá pra alcançar. Mas o que mata mesmo é quando um cú-frouxo solta aqueles gazes mortais... dá vontade de morrer mesmo, entra tudo nariz a dentro. Eca!
Pior mesmo deve ser no lugar mais propício para os grandões, os shows e festas lotadas. Digo deve ser porque ainda não me aventurei em uma empreitada dessas, não porque estou baixinho, mas porque já há algum tempo eu evitava este tipo de programa. Quando mais novo, sempre que ia a um show lotado e ficava no meio do povo, se eu precisasse amarrar o tênis ou nos momentos em que eu descia pra colocar alguém nos ombros, já ficava sufocado em poucos segundos abaixado. É ruim demais pra respirar. Aquele calor infernal e o cheiro do suvaco de um 'cheiroso' mais próximo (é, o nariz dos baixinhos pega bem no suvaco de muita gente).
E tem outra situação desesperadora em ambiente cheio: como é que a gente faz pra ser encontrado? Ou leva uma bandeira pra mostrar onde está ou fica perto de algum cara alto. Ahá, é a vingança do ponto de referência!!!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O bitelo e o tampinha (parte 1)

Quando o assunto é altura sou praticamente PHD. Vivi os dois lados da moeda, conheço todas as vantagens e desvantagens de ser alto demais ou baixo demais. Neste post vou contar sobre aventuras nas alturas.
Antes da cadeira de rodas meus apelidos geralmente eram gigante, bitelo, vara-pau, girafa, coisas do gênero. Minha visão do mundo era diferente da maioria das pessoas. Com 1,95m, sempre fui o mais alto da turma, da escola, e algumas vezes da cidade. E o que eu achava interessante é que realmente a visão do mundo é muito diferente. Para uma pessoa de estatura média, digamos 1,70m, uma cadeira é um objeto de tamanho normal. Pra mim era sempre pequena. O vaso sanitário então, pra mim é pouco maior que um vaso de planta. Vejamos algumas situações em que a altura se destaca. 
Nos shows de música ou festas lotadas, não tinha problema. Sempre tinha uma boa visão e ainda um pouco mais de ar que o resto do povo. Percebi nitidamente isto quando fui ao Rock in Rio em 1991 (desenterrei heim!). Aí já vem algumas desvantagens de ser muito alto. A primeira delas era servir de ponto de referência. Por um lado, até que era bom, a turma se encontrava onde eu estivesse. E se alguém fosse dar uma volta, achava rapidinho o resto do grupo. Mas o problema era quando eu queria dar 'aquela' voltinha. Várias vezes eu estava 'ocupado' em algum canto e chegava alguém perto dizendo 'ué, cade o resto do povo?'. Quando eu falava que não sabia e a pessoa tinha desconfiômetro ela saia de fininho. Mas e os realmente perdidos ou carentes, ou pior, muito bêbados? Ficavam lá, empatando geral, tentando puxar assunto. E eu tentando me controlar pra não dar um 'chega pra lá' no indivíduo.
Mas o que eu achava incrível era quando ouvia alguém que nunca vi na vida falar pra outro "pode ir pegar cerveja, eu tô perto desse cara aqui". Fala sério. Tanta coisa pra servir de referência e o cara me escolhia. Só de sacanagem eu ia andando devagar pro lado e o cara ia me seguindo. Ou então eu ia atrás do que foi pegar cerveja, confundindo os dois. Era até engraçado.
Outro 'uso' muito popular do gigante aqui em festas era servir de periscópio. Toda hora chegava alguém e pedia 'acha o fulano aí pra mim' e eu dava uma geral no ambiente e apontava a direção. Mas, aí vem também uma vantagem. Se a 'requisitante' fosse muito gata, mesmo se eu avistasse o sujeito falava "ih, num tô vendo não. Fica por aqui um pouco que ele aparece." Aí eu tentava transformar esse pouco em muito, muito, e ainda mais um pouquinho...
Aí vem outra desvantagem de ser muito alto. Pra chegar na boca das meninas era um contorcionismo... Eu geralmente me encostava na parede, ia tombando pro lado da menina, entortando ao máximo o pescoço e abaixando a cabeça pra atingir a altura ideal. Isso me rendeu cenas muito ridículas, quando a pessoa era muito mais baixa. Ficava que nem o corcunda de notre dame, só envergando pra baixo. Mas pra resolver isso usava as escadas, calçadas, banquinhos e qualquer outra coisa que eu pudesse colocar a vítima, digo, menina num patamar mais alto.
Voltando aos shows, tinha uma (des)vantagem de ser grande, o tal de "deixa eu subir nos seus ombros". Ah, eu detestava. Colocava a menina nos ombros e pra dar equilíbrio, sem a menor intenção, eu era obrigado a segurar nas pernas, bem firme. Tinha show que dava fila. E eu nuuuunca aproveitava pra tirar umas casquinhas...
Outro problema era usar boné. Eu tinha que redobrar minha atenção, senão chegava em casa com uns três galos na cabeça. Qualquer árvore, placa, lustre ou porta era convite pra dar uma cabeçada. Ah, e como bate a cabeça um bitelo... Se for chifrudo então, não passa em porta nenhuma!
E tinha ainda a função de utilidade pública, pegar ou colocar coisas no alto. Todo mundo que eu visitava arranjava um tal de "aproveitando que você está aqui, pega o edredon em cima do armário." Bom, edredon tudo bem, pior é quando era ventilador, mala, caixa de livros... Haja coluna!
No próximo post descrevo a vida em um metro e meio. Ah, como fazem falta aqueles 45 cm...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Curtas e boas

Sabe aquele dia em que você procura alguma coisa engraçada pra ler mas não está com saco pra ler texto grande? Para isso servem as frases curtas e engraçadas. A maioria você já leu, mas sempre que lê de novo dá uma risadinha! É igual jogo cruzeiro X galo, você já sabe o que vai acontecer, mas sempre acha engraçado (como o último 5X0)!

- Em terra de cego, quem tem um olho vê cada coisa...
- Em cavalo dado não se olha nem se é cavalo mesmo, é de graça!
- Quem tem boca, fala, só vai a Roma quem tem dinheiro mesmo.
- Se quem tem boca vai a Roma, como é que meu fogão, que tem seis, nunca saiu da cozinha?
- Quem ri por último... só pode ser loira.
- Quem cedo madruga... fica com sono o dia todo.
- Os últimos serão... desclassificados.
- Quando um não quer... o outro vira pro outro lado e dorme.
- Quem dá aos pobres... ainda tem que pagar o motel.
- Como diria Edir Macedo: "Templo é dinheiro".
- Pau que nasce torto, mija fora da privada.
- Antes tarde que de madrugada.
- Vale mais um pássaro na mão ... que uma cagada na cabeça.
- Homens casados vivem mais que homens solteiros, mas em compensação os homens casados são os que tem mais vontade de morrer.
- Antes eu tinha amnésia, hoje não me lembro.
- Malandro é o curupira, que só faz gol de calcanhar.
- Malandro mesmo é o Mario, que tira moeda até de tijolo.
- Culpa é que nem pinto e eu ponho em quem eu quiser!
- Já que mulher de amigo meu pra mim é homem, logo os meus amigos são bichas.
- 97% da população não acredita nos políticos, e os outros 3% são os políticos.
- Se você gastar todo seu dinheiro em Viagra, vai acabar ficando duro.
- Do maracujá eu só não comi a Mara.
- O pára-quedas é o único meio de transporte que, quando enguiça, você chega mais depressa.
- Dizem que TV engorda, mas isso depende de quantas TVs você come!
- Dou um boi pra não entrar numa briga, mas se eu entrar, não quero nem saber, quero meu boi de volta!
- Tudo tem um fim. Só a salsicha tem dois!
- Há duas espécies de patifes: os que admitem ser e nós.
- Os Estados Unidos é um país tão desenvolvido, que até os mendigos falam inglês.
- Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris.
- Se viado fosse flor, Pelotas seria um jardim.
- Os políticos são como fraldas. São trocados constantemente e sempre pelo mesmo motivo.
- Há 3 tipos de pessoas: as que sabem contar e as que não sabem.
- Quem dá importância às pequenas coisas é mulher de japonês.
- O sol nasce, a bicicleta anda, o lobo uiva e o urso panda.
- A internet não te deixa idiota. Só deixa a tua idiotice mais acessível aos outros. (essa é pra blogueiros!)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Propagandas criativas usando cadeiras de rodas

Ninguém quer ficar preso a uma cadeira de rodas, e todo mundo sabe dos meios de se precaver deste destino, mas muita gente dá pouca importância a isso e acha que "comigo isso não vai acontecer". Esse sempre foi meu medo, a falta de medo e confiança exagerada nas "habilidades" de piloto. E deu no que deu.
Para lembrar aos mais confiantes das consequências do descaso ao volante, há várias propagandas institucionais alertando para o perigo da mistura de álcool e direção. Hoje no Ueba vi a imagem abaixo, que diz "sente e pense sobre as consequências de dirigir embriagado". Genial. Mesmo se o cara estiver pra lá de Bagda só de pensar estar em uma cadeira o indivíduo entrega a chave pra alguém. De preferência que esteja sóbrio.
Nesse mesmo tema um cadeirante distribuiu folhetos em um semáforo no Chile, e antes que alguém pense que era pedido de esmola, foi uma bela lição de moral aos motoristas desavisados.

O vídeo seguinte, muito bem bolado, faz o mesmo alerta: use cinto de segurança.

Meio sem querer a propaganda abaixo, que foi feita para divulgar os jogos de veteranos de guerra cadeirantes nos Estados Unidos, serviu como uma bela propaganda anti-guerra. Lá estão precisando colocar esses cartazes nas escolas também, onde o risco de levar tiro é cada vez maior.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Empregos impossíveis pra cadeirantes (e outros ideais)

Os deficientes físicos em geral estão sempre batalhando para ter seu lugar ao sol, conseguir um bom emprego e se incluir na sociedade, além de se sentir útil e capaz. O governo reserva cotas em concursos públicos, grandes empresas também são obrigadas a contratar, mas não adianta: há profissões que são impossíveis de ser exercidas pelos cadeirantes. Por exemplo:

- Comediante de "stand up comedy", ou comédia em pé - a não ser que o cadeirante crie uma nova categoria, "sit down comedy", mas acho que não faria sucesso, pois o costume é o cara contar as piadas de pé.

- Carteiro - imagina sair por todas as calçadas desniveladas da cidade numa cadeira de rodas, e mesmo se for numa cadeira motorizada, é impossível passar em muitos lugares. E o pior, não dá pra fugir correndo dos cachorros bravos.

- Policial - se já é difícil correr atrás de ladrão a pé, imagina em uma cadeira de rodas. A não ser que o policial cadeirante tenha uma cadeira turbo, de preferência blindada.

- Guia turístico (em ambiente externo) - experimenta tentar mostrar as pinturas rupestres na caverna em uma cadeira de rodas, experimenta! Ou qualquer outro monumento desses cheios de escadas...

- Aeromoça (ou aeromoço) - Se entrar no avião já é difícil, imagina circular com um carrinho. Pior seria explicar aquele negócio das máscaras caíndo, o que ia dar de gente esticando o pescoço pra enxergar...

Por outro lado, alguns empregos deveriam ter prioridade absoluta pra cadeirantes, pois são bem adequados a quem fica sentado, como por exemplo:

- Passeador de cachorros - tem a vantagem de ser puxado pelas ruas sem fazer esforço. É só usar um dispositivo para controlar a direção, tipo aqueles que puxavam carruagem, se puxar de um lado os bichinhos viram, ou como este aí de baixo, mais sofisticado pra encarar a terra.

- Office boy - tem preferência nas filas de bancos. Só isso já é uma super vantagem, mas quem não vai gostar são os velhinhos da fila de prioridade, que vão ter que esperar o office-cadeirante resolvendo aquele monte de pagamento e conta de tudo que é tipo.

- Apresentador de jornal ou de programa de entrevistas - afinal de contas, a gente nem sabe se eles estão de cueca, pelados ou se tem perna mesmo, nunca saem de trás daquela mesa.

- Papai Noel de Shopping - outro sujeito que fica sentado o tempo todo, e deve ficar com a bunda doendo, coisa que o cadeirante tá acostumado. De preferência com uma mamãe noel como essa aí de baixo.

- Guia Turístico de museu - isso sim é emprego pra cadeirante, tudo plano, corredores largos, e ainda pode pedir pros turistas empurrarem a cadeira de rodas enquanto ele vai falando.
Agora cadeirante nenhum pode reclamar de falta de emprego, é só procurar nos lugares certos. Já tô até vendo a fila de cadeiras de rodas nas seleções de papai noel no fim do ano...